segunda-feira, 28 de junho de 2010

O único lugar pra sempre

Mesmo sabendo que eu colocaria em risco essas coisas que faço e me soam tão bem. O Pilates, por exemplo, que faço às terças e quintas duas horas após almoçar na minha mãe. Isso me parece um pedaço agradável de uma agenda encantada, dias felizes, nada demais. A aula de dança das segundas e quartas, a acupuntura da sexta, a análise quinta cedinho, o parque do sábado a hora que der na telha, o japonês com a Letícia, meu emprego na televisão e na editora que me permitem mandar em boa parte do meu tempo sem ser, por isso, uma louca duranga, o costume de escrever até tarde ouvindo Beck ou Antony and the Johnsons, os mocinhos que aparecem, com intervalos de dez ou vinte dias, e me abastecem de um gostar possível e descartável, algum bar chato que serve pra me tirar de casa e até mesmo rir de um ou outro ser humano mais parecido com o que eu acho que deveria ser um ser humano. Nada disso me soa banal e aprendi mesmo a chamar de minha vida. Agora serão dias achando tudo idiota e até mesmo medíocre. O Pilates, os almoços em família, os bares, tudo uma tortura. Ainda assim, mesmo sabendo que depois é cheia de dor que carrego minhas horas, ainda assim eu cortei o cabelo um dia antes e comprei uma jaquetinha preta em promoção. Ainda que sentir de verdade pareça uma outra vida, às vezes cansa viver dentro das coisas que invento. Com você, mesmo eu inventando tudo também, dá pra ter essa sensação de desordem, atropelamento, vida dizendo e não minha cabeça falastrona. Mesmo sendo ofensivo pra minha existência que pessoas como você existam. Mesmo que sua tristeza e preguiça e desistência mostrem pra minha frescura de sentidos como tudo pode ser amargo e pior: mostre que tudo sempre foi e eu é que, vai ver, sou forte ou abençoada demais pra não sucumbir. Mesmo que sua alegria nunca seja por mim. E que sua alegria torne, quando por mim, minha vida intolerável. Sua existência é um absurdo e isso é a maior verdade que me vem à mente quando penso em você ou estou ao seu lado.
Passamos a tarde juntos. Foi leve e eu estava quieta, coisa que nunca aconteceu nenhuma das vezes que saímos. Eu estava sempre histérica e hoje eu estava muito quieta, até demais. Talvez seja porque eu não tenho mais a euforia louca de ser amada. Eu piro quando alguém me ama e ao ver em você a calmaria dos vencedores corriqueiros, larguei o corpo. Acabou sendo boa, a sensação de tarde ordinária, encontro ordinário. Eu pude habitar o papel de amiga caminhando ao lado, uma forma de ouvir por perto sua respiração pigarrenta que amo como se fosse o único sopro saudável do mundo. Eu permaneci e isso foi diferente, triste, insuportável, mas possível. Como os mortos que ficam em qualquer lugar, até mesmo embaixo da terra. Morto não deseja e por isso mesmo permanece. Acho que seu desejo morreu e talvez o meu também, já que boa parte desse amor enorme que eu sentia e sinto por você, vinha e venha da minha alegria desmesurada em me sentir amada pelos meus próprios sonhos. Você encerrava em mim eu mesma e era uma loucura tudo, como eu sentia, como eu queria me vomitar e ensanguentar e explodir e rodopiar em mim até furar o chão como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o único pião que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno pra não enlouquecer sozinho. Era uma loucura tudo. Mas a morte, o fim, nós, andando calmos, ao lado um do outro, isso me permitiu estar de alguma forma sem querer habitar cada instante do estar e para isso me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver mas viver é terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amada, era ainda mais terrível. Daí que sobra essa sensação de uma solidão filha da puta mil vezes pois em nada dá pra ser com você. E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você.
Me peguei uma hora, olhando você, andar, tão feinho, seu ombro encolheu um pouco, cada dia que passa mais e mais é uma concha o que você se torna. Dessas que é mentira a pérola e o som do mar, mas eu os vejo, o tempo todo. Você andando desse seu jeito meio de louco, que chacoalha a cabeça. E se veste mal quando pouco se importa, eu sei, eu entendi. E a manga suja de café. A roupa bege da cor de tudo que é você. Você é tão errado e cheio de estragos. E me peguei olhando pra tudo isso e amando tanto, tanto, tanto. Como se nada mais no mundo fosse tão bonito ou correto ou mesmo perfeito porque perfeito é o que não tem mesmo cabimento. O resto nem existe porque vemos ou explicamos.
Na sua varanda sem céu, certa vez, você se sentou naquela cadeira sem fundo. Me colocou no seu colo e me deu o abraço que disparava corações em mim como se eu tivesse um em cada nó de veia. E me disse, com sua voz tão bonita, a mais bonita que eu já ouvi, que eu tinha subido todos os seus andares. Eu entendi que você era o homem da cobertura de aço e eu uma espécie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi também que agora que tinha chegado ali, só me restava pular, já que ninguém aguenta o alto tão alto muito tempo. A vertigem que era o nosso amor. Minhas olheiras, meu cansaço, meus quarenta e dois quilos. Eu poderia morrer porque você tinha uma carninha mais mole atrás da sua orelha direita e isso me impossibilitava, dia após dia, que eu vivesse sem sentir você o tempo todo. Mas quem é mesmo que morre dessas coisas? Não, não podemos, com tanta coisa pra fazer, os meninos de dez a vinte dias, os bares, e almoços, o Pilates, a dança, os empregos, escrever, tudo isso que é minha vida antes e depois de você. Tudo isso que daqui a pouco, quando a sensação desgraçada de absurdo e solidão passar, tudo isso volta, se acomoda, a agenda mágica, o gostosinho no peito, esquecer você todo dia um pouco pra vida e todo dia muito pro dia. Mas agora, hoje, guarda isso, eu amo demais você. Por que escrevo? Porque é a minha vingança contra todas as palavras e sensações que morrem todos os dias mostrando pra gente que nada vale de nada. Toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pra gente.


Tati Bernadi
Ando tão à flor da pele,
Que qualquer beijo de novela me faz chorar,
Ando tão à flor da pele,
Que teu olhar flor na janela me faz morrer,
Ando tão à flor da pele,
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser,
Ando tão à flor da pele,
Que a minha pele tem o fogo do juízo final.

domingo, 27 de junho de 2010

Cada vivente com a sua sina."

é né?
O tempo, todo tempo contigo parava, pairava, eu digeriatodas aquelas tuas doçuras e risadas gostosas com o tempo irreal da sensaçãodesmedida do bem sem limite que eu perdurava de você. Plano transcendental,calado, sereno, teu. Consegui acesso a felicidade instantânea permanente a qualpoucos sentem, ou sequer supõe que exista. O repentino ininterrupto. Nadamudou, eu continuou aqui, ali, acolá, falando em você, lembrando em você, o queé clichê um tanto inevitável."
- Eu sempre te digo o que eu penso.

- Você corta algumas partes - ele acusou.

- Não muitas.

- É o suficiente pra me deixar louco."
Nem posso dizer que tentei evitar, pois já descobri que se você evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então é assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno."

terça-feira, 15 de junho de 2010

"Fiquei tensa, esperando pela fúria - a dele e a minha -, mas só havia silêncio e quietude na escuridão do quarto dele. Eu quase podia sentir o gosto da doçura do reencontro no ar; a fragância distinta do perfume de seu hálito; o vazio de nossa separação deixara seu próprio gosto amargo, algo de que só tive consciência quando foi removido.
Não havia atrito no espaço entre nós. A quietude era pacífica - não como a calma antes da tempestade, mas como uma noite limpa, intocada até pelo sonho de uma tempestade.
E eu não me incomodei em ficar com raiva dele. Não me incomodei em sentir raiva de todo mundo. Estendi a mão até ele, encontrei suas maõs no escuro e me puxei para mais perto. Seus braços me envolveram, aninhando-me no peito. Meus lábios procuraram, famintos, por seu peito, seu pescoço, até que enfim encontraram sua boca."

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Daquele tempo nem tão distante, daqueles dias que até hoje duram às vezes duas, às vezes duzentas horas, restou esta sensação de que, como eles, também me vou tombando rápido dentro da boca de um vulcão aberto, sem fôlego, nem tempo para repetir como numa justificativa, ou oração, ou mantra, enquanto caio sem salvação no fogo que é verdade, que si, que no, que nadie puede mismo vivir sin amor."

sábado, 12 de junho de 2010

http://fotolog.com/noc_turn

BIG GIRLS DON'T CRY :]

Tem muita gente que te ama, pra estar chorando por alguém.
Acho que você sabe... Eu passei por algo parecido, e a pior coisa que você pode fazer é guardar, porque senão, você não pára mais de pensar nisso.
Quando minha namorada me deixou, eu fiquei sem rumo, parado, sem acreditar, porque ela era minha vida, e eu ainda amava ela, mas fiquei com medo... Mas tudo passa, e se algo de ruim acontece, é porque tinha que acontecer, para poder vir uma coisa MUITO melhor.
É só esperar.


:*

__

Esse realmente não costumava ser um dia feliz pra mim, partindo do princípio que, ehr, um dia antes de ver esse comentário ai foi o acontecimento mais triste da minha vida e o que me levou a me tornar várias coisas com as quais eu não tinha planejado. E como eu estava falando com Sara ontem, a vida é mesmo engraçada, a três anos atrás, exatamente esta hora, eu estava trancada no banheiro durante quase todo o dia e não conseguia parar de chorar, nem por um segundo, eu nunca fui tão triste. E eu parar e me olhar hoje - realmente não conseguia mais me imaginar assim - e ver que apesar de ter demorado três anos, essa coisa MUITO melhor me apareceu e eu não tenho nem palavras pra descrever o quanto eu estou feliz e em paz com tudo o que Deus tá me dando ultimamente. Não vou negar que ainda bate aquela melancoliazinha, mas é que eu era tão acostumada a passar todos os dias dos namorados de "luto" que isso é meio que automático. Mas tenho certeza, que 'eu tou exatamente aonde eu queria estar' e que hoje, só por ser hoje e só no fato de eu ver essa pessoa perfeita que vem me acompanhando à 1 mês e 5 anos (como eu diria ahuah) apagará da minha lembrança toda e qualquer angústia que eu tenha desse dia, apagará toda e qualquer angústia que ainda reste em minha alma, porque não há tristeza perto dele, é só felicidade.

Obrigada, meu amor, por em um mês apenas conseguir levar toda a escuridão que existia dentro de mim. Eu não poderia estar mais feliz do que estou agora.


Eu amo você.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

:(












Eu estou aqui, e eu te amo. Eu sempre amei você, e eu sempre vou amar.

Eu estava pensando em você,
vendo o seu rosto em minha mente, durante cada segundo em que estive longe.

Quando eu te disse que não te queria,
aquele foi o tipo mais negro de blasfêmia".

terça-feira, 1 de junho de 2010

Serre-moi




Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças ao teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo discretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda, meu.