quarta-feira, 7 de julho de 2010

Divagações na boca da urna


Mais nítido que as ruas sujas,

resta o hexagrama das cores
do arco-íris suspenso no céu

Política é exercicio do poder, poder é o exercício do desprezível. Desprezível é tudo aquilo que não colabora para o enriquecimento do humano, mas para a sua (ainda) maior degradação. Como se fosse possível, pior é que sempre é.
Ah, a grande náusea desses jeitos errados que os homens inventaram pra distrair-se da medonha idéia insuportável de que vão morrer, de que Deus talvez não exista,
de que procura-se o amor da mesma forma que Aguirre procurava o Eldorado: inutilmente.
E há também aquela outra política que os homens exercitam entre si. Uma outra espécie de política ainda menor, ainda mais suja, quando o ego de um tenta sobrepor-se ao ego do outro. Quando o último argumento desse um contra aquele outro é: sou eu que mando aqui.
Ah, a grande náusea por esses pequenos poderosos, que ferem e traem e mentem em nome da manutenção de seu ego imensamente medíocre. Porque sem ferir, nem trair, nem mentir tudo cairia por terra num estalar de dedos. Eu faço assim - clack! - e você desmonta. Eu faço assim - clack! - e você desaparece. Mas você não desmonta, nem desaparece: você é que manda, essa ilusão de poder te mantém. Só que você não existe, como não existe nem importa esse mundo onde você se julga senhor. O outro lado, o outro papo, o outro nível - esses, meu caro, você nunca vai saber sequer que existem. Essa é a nossa maior vingança, sem o menor esforço (...)


Caio Fernando Abreu

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